segunda-feira, 15 de junho de 2015

O idiota sou eu

A sala de aula pode se tornar num campo de batalha, num divã, ou pior, num lugar para catarse.
Num debate sobre a tortura o estudante mais velho da turma justifica seu uso pela eficácia. Constato a divisão de opiniões polarizada quando emergem outras pérolas como "são profissionais altamente treinados pra isso". Eu já havia contado o que sei sobre o "uso moderado da força para fins confissão" nos EUA. Já tinha feito a piada sobre o Capitão Nascimento ser o Jack Bauer brasileiro, que resolvia tudo na porrada. Só cresciam os comentários sobre a possibilidade e até a necessidade do uso da tortura. Estava vivendo meu pior pesadelo. Um jovem professor idealista do combate à tortura desmoralizado pelo discurso da ordem militar.
Foi quando pensei sobre o porquê escolhi ser professor. O que eu pensava sobre profissão e vocação, e todo mundo que eu admirava por viver isto intensamente. Então comecei a divagar com o que lembrava das lições da professora Jeanine Philippi, sobre o conceito de idiota para Hannah Arendt. A cada frase que eu dizia repetia enfaticamente no final:
"- Idiota!".
Seria aquele que pensa que o mundo gira entorno do seu umbigo.
"- 'Fiz, porque recebi ordens'. Idiota!".
No final da aula, o estudante vencedor do debate, que há pouco me olhava com os olhos esbugalhados, aperta minha mão com um muito obrigado para nunca mais voltar.
Luiz Otávio Ribas, Rio de Janeiro, 27 abr 2015
Hannah Arendt bolada

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