quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Ninguém haverá de gritar pelos povos da Amazônia


O ano era de 2004 e pelos corredores do tradicional curso de Direito da UFSM, escutavam-se vozes, murmúrios de jovens que ainda não sabiam o que significava o Direito Alternativo, nem Assessoria Jurídica Popular, entretanto, estavam desconformes com o ensino jurídico positivista, tão canônico e arraigado que lhes trasnmitiam os primeiros anos naquela faculdade. Foi nessa mescla entre o desconforto e a insatisfação , que surgiu a idéia de criar um grupo de extensão voltado para as necessidades das comunidades de Santa Maria, eis que surgiu o NIJUC, núcleo de interação jurídica comuntária. Quando ingressei nesse grupo em 2005, já era familiarizada com a figura de um rapaz baixo e barbudo, companheiro das eras de movimento estudantil. Vindo dos rincões do nosso Estado, lá pras bandas do Serro do Ouro, quase na fronteira com a Argentina, o Fagner( na foto) sempre teve essa "essência de terra" e em Santa Maria, na "cratera urbana"como ele chamava, muitos foram os trabalhos em parceria com o povo, desde projetos como "O direito no lixo: porque o direito é lixo e o lixo é direito", até o utópico e pesersistente "Dom Quixote_ Assessoria andante".

Durante os anos de curso, muitas foram as discussões e os ensinamentos também, até que no ano de 2008 , ele se bandeou para o norte do país, como funcionário de um órgao federal, para experimentar a via de se fazer ou não as revoluções nas entranhas do Estado. Todo princípio é dificil, mas esse amigo nos traz que a realidade do norte, tão desconhecido e ausente para maiorioa de nós, é embrutecedora. Nos primeiros tempos sua tentativa foi de escrever sob um pseudônimo num blog, criando as "Cartas do Norte", pelas constantes ameaças e pela instabilidade vivida, isso não pôde continuar. Mas seguindo os ensinamentos de un hermano argentino, "el CHE" de que "hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás", atualmente, antes de regressar por "um breve período"ao sul, o companheiro nos deixa um relato de suas visões e experiências destes dois anos no coração da Amazônia, mais precisamente em Santarém , no Pará.

"Niguém haverá de gritar pelos povos da Amazônia" é um relato fortemente consciente de quem criou laços de comprometimento com o povo (populações originárias e tradicionais) e que de dentro do Estado alerta para as barreiras nunca rompidas pela noção oligárquica de desenvolvimento. O texto, em verdade é um manifesto.
A imagem acima, é dentro dos projetos desenvolvidos pela Superintendência do INcra de Santarém de construção de casas populares, dentro de um conceito de construção das casas pela próprias comunidades.
"Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei salvar os índios, não consegui.
Tentei fazer uma Universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.
Mas os fracassos são as minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."
(Darcy Ribeiro)

2 comentários:

  1. Sem dúvida, depoimento digno de nota. E que o último calar seja o minuto de silêncio em honra de tantos trabalhadores mortos e escravizados pelo progresso capitalista. Podemos dizer que não só o antigo governo federal abandonou sua agende de crítica ao desenvolvimentismo (quando fora, no passado longínquo, um dos principais expoentes da teoria da dependência), mas o atual também, com seu projeto civilizacionista-capitalista. E a pergunta ecoa, com um silêncio que continua a perturbar: quem haverá de gritar pelos povos da Amazônia?

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  2. É triste saber que o imenso trator da "modernidade desenvolvimentista" passa por cima das vidas de quem sempre viveu e vive da floresta e que o sangue que escorre não é metafórico...

    Mais um silêncio que incomoda, entre tantos (deus do céu! quantos mais?).Mas ainda assim vale o esforço de uns poucos, também a voz levantada como no texto do linque.

    Uma situação bastante semelhante ao que ocorre nos cerrados piauienses(sim!Lá existem seres humanos com um modo de vida ímpar e que serão sumplantados- esmagados- pela monocultura, nossa menina dos olhos. A salvadora da pátria!) poucos são os lúcidos que ousam se manifestar, porque afinal de contas o Piauí é pobre e só há um caminho para a nossa plena redenção!Quem sabe esse tena mereça maiores atenção no blogue posteriormente.

    Mas voltando à postagem, gostaria de agradecer as tristes informações compartilhadas. As regiões recônditas do nosso país, pouco abordadas pela mídia hegemônica, carecem de uma exposição que revele a crueldade das relações sociais que terminamos por manter por nossa própria ignorância. Ignorância tanto pela absoluta falta de conhecimento, quanto pela incorporação da visão simplista que o texto fala.

    Um grande abraço em todos!

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